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20 de Setembro, 2024

Carta aberta aos candidatos às Prefeituras Municipais

Carta aberta aos candidatos às Prefeituras Municipais

Protagonismo dos municípios no saneamento

As eleições municipais desempenham um papel crucial na determinação dos rumos dos municípios, pois é através delas que os cidadãos escolhem seus representantes locais, como prefeitos e vereadores, que terão a responsabilidade de gerir e legislar em prol do desenvolvimento local. Esses representantes são os principais responsáveis pela implementação de políticas públicas que afetam diretamente a vida cotidiana dos cidadãos, como educação e infraestrutura e saneamento, diretamente ligado à saúde e à qualidade de vida.

Diante disso, gostaríamos de lembrar aos candidatos sobre o trabalho da ASSEMAE, Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento, é uma organização não governamental brasileira, sem fins lucrativos, fundada em 1984. Ela tem como objetivo principal fortalecer e desenvolver a capacidade administrativa, técnica e financeira dos serviços municipais de saneamento. Isso inclui sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e drenagem urbana. A associação é reconhecida nacional e internacionalmente, contando com quase dois mil associados em todo o Brasil. Além disso, a ASSEMAE desempenha um papel ativo na defesa da universalização do saneamento básico e na melhoria da gestão pública, participando de conselhos e comitês relacionados ao setor em diversas esferas do governo federal.

A ASSEMAE tem desempenhado um papel importante na promoção do saneamento público municipal no Brasil. Com debates e painéis, como os realizados durante os Congressos Nacionais da ASSEMAE, a associação aborda temas vitais como a regionalização e regulação dos serviços de água e esgoto, além de discutir o novo Marco Legal do Saneamento Básico. A ASSEMAE também defende a gestão pública de qualidade e o protagonismo municipal, enfatizando a importância da autonomia local na tomada de decisões e na integração das políticas de desenvolvimento urbano. A entidade tem sido uma voz ativa na luta por investimentos em saneamento, refletindo o compromisso com a inclusão social e o desenvolvimento sustentável das cidades.

A luta pelo protagonismo municipal no saneamento é essencial devido à capacidade única que os municípios têm de entender e atender às necessidades específicas de suas comunidades. Com a elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico, os municípios podem diagnosticar problemas, estabelecer objetivos e metas claras e obter aprovação para a aplicação de recursos federais. Além disso, o saneamento adequado é um vetor indispensável para a saúde pública, impactando diretamente na prevenção de doenças como a dengue. A participação ativa dos municípios também é fundamental para a proteção de rios e mananciais, evitando a contaminação por esgotos não tratados, o que reforça a importância do envolvimento municipal na gestão de resíduos e na preservação ambiental. Portanto, o protagonismo municipal no saneamento é um passo decisivo para a promoção da saúde, do bem-estar e da equidade social, o que é defendido pela ASSEMAE.

Talvez o ponto mais sensível atualmente seja a pressão para que os municípios realizem a concessão dos serviços de saneamento, o que gera bastante preocupação para a ASSEMAE, que reúne gestores experientes na área. Os defensores argumentam que a participação do setor privado pode trazer investimentos necessários e melhorar a eficiência dos serviços. No entanto, entre os riscos identificados estão o aumento das tarifas, o que pode tornar o acesso à água potável e ao saneamento básico menos acessível para a população mais pobre, e a possibilidade de investimentos insuficientes em infraestrutura, especialmente em áreas menos lucrativas. Além disso, a experiência internacional mostra que muitas cidades que privatizaram esses serviços acabaram revertendo a decisão devido a problemas como falta de transparência e deterioração da qualidade dos serviços. No Brasil, o novo Marco Legal do saneamento busca expandir o acesso aos serviços, mas também permite a privatização, o que tem levantado questões sobre a melhor forma de garantir um direito humano essencial como o saneamento. Defendemos, acima de tudo, a proteção dos interesses dos cidadãos e garantir a sustentabilidade a longo prazo dos serviços municipais de saneamento.

Outro fator a ser considerado é a regionalização do saneamento, conforme estabelecida pelo Novo Marco Legal do Saneamento Básico (Lei 14.026/2020), o que representa uma mudança significativa na gestão dos serviços de saneamento no Brasil. Teoricamente, a regionalização visa a universalização e a viabilidade técnica e econômico-financeira dos serviços, promovendo a integração dos serviços de saneamento em regiões que abrangem múltiplos municípios. No entanto, essa abordagem tem levantado preocupações sobre a perda de autonomia dos municípios, uma vez que os planos regionais podem se sobrepor aos planos municipais, limitando a capacidade de decisão local. A titularidade dos serviços passa a ser compartilhada, e a forma de prestação do serviço é regionalizada, o que pode reduzir a influência direta dos municípios na gestão dos seus próprios serviços de saneamento, tendo como consequência a perda da qualidade do serviço prestado, entre outros problemas. Como está, a norma de regionalização não deixa alternativas para o prestador municipal, que é empurrado para o bloco, sem garantias, representando uma trava para a gestão pública municipal de qualidade.

A ASSEMAE tem posição firme na defesa da gestão municipal dos serviços de saneamento básico, pelas diversas vantagens, como a proximidade com as necessidades locais, o que permite uma resposta mais rápida e adequada às demandas da população. A lei brasileira de saneamento básico, Lei 11.445/2007, estabelece diretrizes nacionais para o setor e reforça a responsabilidade dos municípios na prestação desses serviços, incluindo o abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. Além disso, a gestão municipal pode promover maior participação da comunidade no controle social dos serviços, aumentando a transparência e a eficiência. Investimentos em saneamento também trazem benefícios econômicos significativos, como a valorização imobiliária e a redução de custos com saúde pública, ao prevenir doenças relacionadas à falta de infraestrutura adequada. Ademais, a autonomia municipal na gestão do saneamento permite a implementação de políticas adaptadas às particularidades regionais, o que pode resultar em melhorias na qualidade de vida e no bem-estar da população, e a prestação municipal é destacadamente a melhor do país.

As mudanças climáticas representam um desafio significativo para o saneamento básico. A infraestrutura existente enfrenta pressões crescentes devido a eventos climáticos extremos, como secas severas e chuvas intensas, que podem sobrecarregar os sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário. A adaptação e a resiliência dessas infraestruturas são cruciais para garantir a segurança hídrica e a saúde pública. Medidas proativas e políticas eficazes são necessárias para melhorar a capacidade de resposta às mudanças climáticas e para assegurar o desenvolvimento sustentável, alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, e a ASSEMAE está à disposição dos serviços municipais de saneamento para apoiar no que for necessário.

A Assemae desempenha um papel essencial na promoção de uma gestão eficiente e moderna dos serviços municipais de saneamento. Com uma abordagem holística, oferece capacitação técnica e apoio na busca por recursos, facilitando a criação de uma rede robusta de contatos e colaboração. Seu escritório em Brasília atua como um ponto de articulação vital com o Governo Federal e o Congresso Nacional, garantindo que as necessidades e desafios dos serviços municipais de saneamento sejam representados e atendidos. Através de eventos como o Congresso Nacional de Saneamento, a Assemae também proporciona uma plataforma para a troca de conhecimentos e experiências, incentivando a implementação de práticas inovadoras e sustentáveis no setor.

Ao desejar sucesso aos futuros prefeitos, a ASSEMAE reforça a importância de políticas públicas eficazes no setor de saneamento básico, essenciais para o desenvolvimento sustentável e a saúde pública. A entidade se coloca à disposição para colaborar com os gestores eleitos, promovendo a troca de experiências e o compartilhamento de melhores práticas no âmbito do saneamento.

Rodopiano Marques Evangelista

Presidente da Assemae