A complexidade da análise da qualidade da água consumida no Brasil foi tema de mesa-redonda do 49º Congresso Nacional de Saneamento da Assemae, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá, na terça-feira (07) entre representantes da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Ministério da Saúde e gestores dos serviços municipais do setor. A falta de recursos aliada a problemas técnicos dos laboratórios que prestam serviço são apenas parte das dificuldades na área.
Para o representante do Ministério da Saúde e consultor do Programa de Vigilância da Qualidade da Água para o Consumo Humano – Vigiáguas, Luiz Felipe Lomanto, é preciso monitorar e analisar mensalmente os relatórios de controle da qualidade da água. “Neste caso, a prestação do serviço e a vigilância têm que andar de mãos dadas”. Segundo ele, há um esforço para que em 2019, os prestadores de serviço tenham autonomia na inserção dos dados disponíveis no Portal Brasileiro de Dados Abertos – SISÁGUAS.
Já a coordenadora da Qualidade da Água para Consumo Humano do Departamento de Saúde Ambiental (Desam) da Funasa, Silene Santos, fez um alerta: “O controle da qualidade da água, por si só, não garante a segurança da água. É preciso capacitação profissional, planejamento e gestão de um programa com execução participativa. Temos que quebrar paradigmas e aliar desenvolvimento econômico com proteção ambiental usando tecnologias viáveis e sustentáveis”. Para ela, a solução alternativa é o tratamento de água de forma simplificada, com baixo custo e aplicação disponível para pequenas comunidades.
Bons exemplos como o do município de Piracicaba, interior de São Paulo, que tem 100% de água tratada e 100% da coleta e tratamento do esgoto. O biólogo do Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae), Ivan Canale, explicou que para o atendimento integral da portaria de potabilidade, o município monitora desde a água bruta até a saída no tratamento e distribuição do produto. “Temos um programa de pelos menos 10 amostras diárias para abranger 200 pontos mensais e equipamentos que acompanham on line a turbidez e oxigenação da água. Em cinco anos não foram notificadas doenças de veiculação hídrica no município”, destacou Canale. O custo para manter o laboratório de análise é de R$ 888 mil.
O coordenador do Plano de Segurança da Água de Campinas e engenheiro da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), Romeu Cantusio Neto, fez considerações importantes sobre o aumento dos surtos epidêmicos que colocam o Brasil como líder nos relatos de ocorrências de 36 espécies de protozoários. Ele citou o surto de toxoplasmose no Rio Grande do Sul, como consequência de veiculação hídrica e o surto de cryptospiridium como principal causa de surtos de gastroenterites e de diarreia severa em países em desenvolvimento como o Brasil. “O controle laboratorial subestimado não constitui garantia de potabilidade. O Plano de Segurança da Água é o documento que estabelece o mecanismo para a redução dos riscos”, assegurou.
O diretor de Tratamento e Meio Ambiente do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) de Porto Alegre, Marcelo Gil Faccin, lembrou a dificuldade vivida em 2016 para descobrir a causa das alterações de gosto e odor da água consumida no município com 1,5 milhão de habitantes. “No mundo ideal a água é insípida, inodora e incolor. No mundo real, mesmo segura para consumo humano apresenta gosto, cor e turbidez”, concluiu.
A mesa-redonda foi coordenada pela diretora nacional da Assemae e do Serviço de Água e Esgoto de Senador Firmino, em Minas Gerais, Fernanda Fernandes Heleno.