Por Rachel Biderman*
O desafio das mudanças climáticas assusta, mas ao mesmo tempo oferece oportunidades. A seca vivida no Sudeste do Brasil em 2014 é um sinal de alerta, assim como diversas outras situações críticas que estão frescas em nossa memória. Ou já se esqueceram dos furacões que assolaram a região do Caribe e Golfo do México? E dos desastres sofridos em Honduras, Nova York, Inglaterra, Santa Catarina e Amazônia brasileira?
Se tais eventos climáticos extremos ficam cada vez mais intensos e frequentes, e se é possível minimizar desastres maiores, por que é que ainda não estamos agindo com toda energia para que isso aconteça?
Neste cenário tão desolador, onde estariam as oportunidades? Onde reside a esperança?
Cientistas alertam que, nos próximos 10 a 15 anos, teríamos que optar por novas fontes de energia renováveis, alterar modos de produção agropecuária, mudar padrões de consumo, promover a restauração da natureza em áreas degradadas, criar e implementar unidades de conservação em todos os biomas, e tornar mais eficiente e inteligente nossa mobilidade e uso de recursos. Portanto, há esperança.
As soluções existem. Porém, temos que sair da pequena escala e tornar essas ações virais, mandatórias e disseminá-las rapidamente pelo planeta. Bastaria boa vontade, compromisso, alocação de recursos. E tudo isso está ao nosso alcance.
Para salvar nosso planeta, começaríamos por eleger mulheres e homens comprometidos com essas soluções em todos os espaços públicos. Teríamos ainda prefeitos, governadores, deputados e vereadores atuando em defesa das florestas e sistemas naturais, e das populações locais. Depois passaríamos às empresas, que produziriam de forma a abastecer o planeta de bens e serviços, sem comprometer a base de nossa sustentação, ou seja, a biosfera.
Também todos estariam comprometidos em conservar áreas ambientais relevantes e em restaurar terras degradadas, permitindo que a natureza forneça os serviços ambientais que sempre foi capaz de gerar, como água, alimentos e biodiversidade.
Ainda, que incrível seria se rapidamente passássemos de uma matriz energética baseada na exploração de combustíveis fósseis, altamente poluentes, para um sistema que usa o sol, os ventos e as marés, como sua principal fonte, sem poluir nem gerar gigantescos impactos sobre a atmosfera.
Essas ações gerariam empregos verdes, alimentos saudáveis, mobilizariam as pessoas para construírem economias sustentáveis nas escalas locais e garantiriam acesso à água limpa.
Se tudo isso está ao nosso alcance, por que é que ainda não virou a regra? Você já pensou nisso? Esperamos que essa reflexão também seja feita pelos líderes mundiais, inclusive aqueles que participam das negociações das Conferências das Partes (COPs) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Afinal, até a COP 21, que acontecerá na França, no final de 2015, será preciso chegar num consenso para finalizar um novo acordo global sobre o clima.
* Rachel Biderman é Advogada Ambientalista. Diretora Executiva do World Resources Institute (WRI Brasil). Bacharel em Direito (USP) Mestre em Ciência Ambiental (USP), Mestre em Direito Internacional (American University), Doutora em Gestão Pública (FGV-SP). É uma das fundadoras do Observatório do Clima e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.