A garantia do acesso ao saneamento básico de qualidade a todos, conforme recomenda a Organização das Nações Unidas, foi o centro do debate realizado pela 46ª Assembleia Nacional da Assemae, na manhã dessa quinta-feira, 19 de maio. O painel contou com a participação de especialistas da área e gestores públicos, que esclareceram a relação do saneamento com a prevenção de doenças vetoriais relacionadas ao mosquito Aedes aegypti.
O painel teve a coordenação do 2° vice-presidente nacional da Assemae e diretor geral do Dmae de Porto Alegre (RS), Antônio Elisandro de Oliveira, incluindo como palestrantes o assessor técnico da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental do Ministério da Saúde, Daniel Cobucci de Oliveira; a pesquisadora em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Aline Gurgel; a professora do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Patrícia Campos Borja; e o diretor de assuntos jurídicos do SAAE de Jaguaribe (CE), Francisco Ronaldo Nunes.
O representante do Ministério da Saúde, Daniel Cobucci, ressaltou que a dengue sempre foi uma doença preocupante para o país, e agora, com as novas doenças ligadas à chikungunya e ao zika vírus, é preciso ter ainda mais atenção aos meios de prevenção e controle dos focos do mosquito. Nesse sentido, o Governo Federal criou a Sala Nacional de Coordenação e Controle, composta por diversos ministérios e replicada em todos os estados. Entre as problemáticas que contribuem para a proliferação do mosquito, destaca-se a questão do armazenamento inadequado de água e a quantidade de resíduos sólidos sem manejo adequado. “Devemos envolver os profissionais das companhias e serviços autônomos para orientação e conscientização da sociedade, com campanhas e cartilhas esclarecedoras sobre o assunto”, frisou.
A palestrante Alina Gurgel expôs a visão científica das prováveis relações entre o saneamento básico e as doenças vetoriais relacionadas ao mosquito Aedes aegypti. Afirmou que o saneamento básico é condição para melhorar o meio ambiente e ampliar a qualidade de vida dos cidadãos. Por outro lado, a falta dos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e drenagem das águas pluviais expõe a população para todo tipo de doenças relacionadas à água contaminada e aos restos orgânicos, degradando a saúde e os recursos naturais. Segundo ela, os produtos químicos utilizados como forma de controle ao mosquito são prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. “É preciso levar em conta que alguns produtos químicos utilizados para matar os vetores causadores de doenças, trazem grandes danos à saúde pública, levando, em alguns casos, à morte”, destacou a pesquisadora.
A professora Patrícia Campos levantou a questão da igualdade social e da necessidade de participação social na realização de políticas públicas, com a monitoração do desenvolvimento de ações que possam minimizar a proliferação de vetores transmissores de doenças. “Seria mais eficiente investir em saneamento ambiental, como forma de controlar os focos e diminuir a incidência dessas doenças”, comentou. Campos enfatizou que a presença do aedes está associada à ausência de condições adequadas de saneamento na maioria dos municípios brasileiros, especialmente nas regiões onde a população necessita armazenar água em barris e tonéis. As cidades que apresentam limitações no gerenciamento de resíduos sólidos e falta de coleta seletiva também são alvos dessas doenças, já que o lixo acumulado dificulta a identificação dos focos do mosquito.
O diretor do Saae de Jaguaribe, Francisco Nunes, apresentou o plano de combate ao mosquito aedes realizado no município. Em 2015, Jaguaribe não registrou nenhum caso de dengue, graças às mobilizações sociais e educação ambiental, desenvolvidas junto às escolas e comunidade. Para ser um município com dengue zero, ocorreu o envolvimento da Secretaria de Educação, como dinamizadora, da Secretaria de Saúde, como socializadora, e do Saae de Jaguaribe, como mediador das atividades. Todo o trabalho foi realizado com a conscientização das crianças. “Práticas educativas interdisciplinares e intersetoriais, no âmbito da relação entre meio ambiente e saúde podem gerar bons resultados, principalmente quando se promove o protagonismo escolar”, mencionou Francisco Nunes.