A Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (Assemae) vem a público manifestar seu repúdio pelo rompimento das barragens de mineração da empresa Samarco, que causou uma enxurrada de lama tóxica no dia 05 de novembro de 2015, e já é considerado o maior desastre ambiental do Brasil. A tragédia de Mariana, como ficou conhecida, é somente a face perversa da ganância pelo lucro a qualquer preço, mesmo que isto implique na perda de vidas e destruição do meio ambiente.
O rompimento das barragens de rejeitos vitimou pessoas, devastou matas ciliares, mudou a fauna às margens do Rio Doce e prejudicou o abastecimento de água em diversas cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo. Junto com a lama tóxica também ficaram enterrados os sonhos de centenas de famílias de origem pobre, levando quase dois mil pescadores a ancorar canoas por tempo indeterminado.
Os números reforçam a dimensão do desastre: foram 11 toneladas de peixes mortos entre Minas Gerais e Espírito Santo, 35 cidades afetadas pela lama, 1.265 desabrigados alocados em hotéis e pousadas da região, 1,5 mil hectares de vegetação destruídos no trajeto de Mariana (MG) a Linhares (ES), além de 17 mortos e três pessoas que continuam desaparecidas. Mais de um mês após o evento, milhares de pessoas ainda sofrem com interrupções no abastecimento de água.
Principal fonte de vida na região, o Rio Doce continua com índices de turbidez elevada, o que dificulta o desempenho do tratamento de suas águas. A população é obrigada a enfrentar filas durante horas para ter acesso a condições mínimas de saneamento básico e higiene, sobretudo, pela dificuldade de obter informações claras em relação à potabilidade da água. De acordo com a Organização das Nações Unidas, o acesso à água de qualidade e a instalações sanitárias é um direito do homem, indispensável ao pleno gozo do direito à vida. Daí a necessidade de unir esforços entre o poder público e a sociedade civil, garantindo a oferta de água segura e suficiente a todos.
Para nós, a tragédia de Mariana é fruto da ganância de uma atividade econômica que avança na exportação dos recursos naturais brasileiros, a fim de alimentar apenas as contas de acionistas e aquecer o mercado financeiro. A Assemae considera que milhões de reais em multa não apagarão os prejuízos do desastre. Na prática, essa conta já está sendo paga pela população simples, que sofre com a falta de água potável e de peixes nos rios, além da proliferação de doenças causadas em decorrência dos metais pesados, e das dores e angústias de perder a própria história escorrida pela avalanche de lama.
Segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), existem no estado de Minas Gerais outras 700 barragens de rejeitos, com condições semelhantes às duas que se romperam em Mariana. Nesse sentido, as políticas públicas do Brasil precisam assegurar a integridade destas estruturas, evitando que mais vidas sejam perdidas em função de novos desastres. Também reiteramos a necessidade de uma investigação profunda e imparcial, incluindo medidas de punição aos responsáveis pela tragédia, apoio às populações atingidas e revitalização do meio ambiente.
Por fim, manifestamos nossa solidariedade às centenas de famílias afetadas pela lama das barragens, ao mesmo tempo em que solicitamos providências dos órgãos competentes para garantir o acesso à água e ao saneamento básico de qualidade. A Assemae não mediará esforços a favor dos municípios brasileiros e de sua brava gente, lutando pela qualidade de vida e proteção aos recursos naturais.
Foto: Elvira Nascimento