Crise hídrica: o papel de cada um
Mais um Dia da Água chega e nem de longe se tem notícia da solução para garantir o acesso de todos os cidadãos brasileiros, muito menos do mundo, a este recurso natural. A Assemae – Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento, sediada em Brasília, é testemunha da crise hídrica que afeta a capital federal. A entidade é, inclusive, localizada em uma região atingida pelo rodízio de corte – em que a cada seis dias, por 24 horas, o fornecimento é interrompido. O objetivo é evitar que as duas barragens que abastecem o Distrito Federal sequem completamente, visto que os seus níveis estão baixos.
Temos a consciência de que outras cidades do país também sofrem com a falta d’água, como São Paulo, que tem destaque na mídia mundial por conta das torneiras secas. E a região Nordeste do país é um cenário de catástrofe permanente, onde os sertanejos simplesmente esperam a morte da vegetação, dos animais, e, infelizmente, dos seres humanos. Alguns ainda têm a sorte de encontrar um açude com água salobra ou juntam todas as economias, que se resumem a alguns reais, para comprar água dos caminhões pipa. Mas a quantidade nunca é suficiente, e a qualidade do líquido, sem garantia.
A água é um direito humano e negar aos cidadãos o acesso ao saneamento e à água potável é uma violação deste direito. Não se trata de permitir que qualquer um use a quantidade que quiser, do jeito que quiser. O direito à água deve garantir o acesso ao recurso natural, assim como ao saneamento, em quantidade suficiente para a manutenção da saúde e da dignidade humana.
Ao Governo cabem as ações para garantir água de qualidade à população. E isso não é uma caridade, é justiça. As reservas de água doce pelo mundo estão cada vez mais secas, assim como no Brasil. O desafio de garantir água para todos está lançado. E um princípio indispensável é a gestão pública de qualidade. Pois, não adianta o rodízio, a multa pelo aumento do uso da água e as campanhas de conscientização veiculadas na mídia se o serviço local de abastecimento não fizer sua parte.
É desanimador saber que a crise hídrica na capital federal foi prevista há anos por pesquisadores da área, mas que nada foi feito preventivamente para salvar as barragens. Temos obras milionárias, no planalto central, que serviriam para garantir o abastecimento e que foram paralisadas há anos por irregularidades, além da falta de planejamento e, ainda, a falta de eficiência e eficácia do prestador de serviço, que, por sua vez, leva dias para fazer um reparo na rede para evitar perdas. Em plena crise, não é raro ver nas ruas canos e tubulações jorrando aquilo que deveria estar sendo poupado. O cidadão precisa fazer a sua parte, mas quem está do outro lado do balcão, também.
Francisco Lopes
Secretário Executivo da Assemae
Imagem: Internet