Apesar das exigências da legislação brasileira, a destinação correta de resíduos sólidos, por meio da coleta seletiva e da logística reversa, caminha a passos lentos no país. “O manejo de resíduos sólidos não é prioridade. Os índices de reciclagem são pífios. O que fazer para que uma garrafa não seja jogada fora e gere renda? ”, questionou o consultor sênior em saneamento, recursos hídricos e meio ambiente, Sérgio Gonçalves, como um dos debatedores do assunto.
A mesa-redonda, realizada no 49º Congresso Nacional de Saneamento Básico da Assemae, na quinta-feira (09.05), no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá, foi coordenada pelo presidente da Assemae Regional Centro-Oeste e diretor técnico do Serviço de Saneamento Ambiental de Rondonópolis (Sanear), Hermes Ávila de Castro. Dois exemplos de coleta seletiva foram apresentados mostrando a ação do poder público municipal com resultados importantes para a área, um em Mato Grosso e outro no Rio Grande do Sul.
O município de Tangará da Serra, a 200 km de Cuiabá, apresentou o projeto de reciclagem implantado pela Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) com a cooperativa de catadores, a Coopeertan, desde de 2007. A separação do material é realizada nas residências e no comércio na área central da cidade e nos bairros. O município divide com a cooperativa a responsabilidade da coleta, 50% para cada um. A distribuição de sacolas para a população estimula a separação dos resíduos. São 960 mil sacolas distribuídas por ano. Os 43 catadores da cooperativa recebem pelo trabalho R$ 1.450,00 com a comercialização de 80 toneladas/mês.
O Samae também desenvolve um trabalho de educação ambiental. “Estamos ampliando o projeto em uma nova área para a cooperativa, instalando ecopontos, buscando recursos federais para financiar a aquisição de equipamentos para reciclagem de outros produtos. Vamos transformar o tangaraense para que seja como os japoneses e recolham o lixo dos locais que frequentam, como vimos na Copa do Mundo, em 2014”, ressaltou o diretor do Semae, Wesley Lopes Torres.
Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a coletiva seletiva existe há 29 anos. O engenheiro do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Geraldo Reichert, explicou que a coleta foi implantada, inicialmente, em um bairro, porta a porta com catadores organizados em cooperativas. Atualmente, são 18 unidades de triagem manual, com 650 cooperados. Mesmo assim, 95% dos resíduos sólidos vão para o aterro. “O conceito de gerenciamento integrado do resíduo sólido urbano (rsu) definido pela lei 12.305, de 2010, que estabelece o Plano de Resíduos Sólidos já existia em 1990, quando o município implantou o sistema. Ou seja, não mudou muito”, apontou.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), Clóvis Benvenuto, disse que a missão da entidade é acabar com os lixões. Existem mais de 3 mil ainda no Brasil, segundo ele. A prioridade número um da Política Nacional de Resíduos Sólidos é a não geração de resíduos. “Mesmo sendo uma prioridade, pouco se fala desta questão. Além disso, 75% dos brasileiros não separam os resíduos e, menos da metade, sabe que o alumínio, papel e garrafas pet pode ser reciclado. Precisamos de mais reciclagem. Sem ter lucro com isso não vamos resolver o problema”, destacou Benvenuto.