É como jogar o dinheiro do lixo no lixo. Todos os anos, o Brasil produz quase 37 milhões de toneladas de lixo orgânico. Esse resíduo tem potencial econômico para virar adubo, gás combustível e até mesmo energia. No entanto, apenas 1% do que é descartado é reaproveitado.
Os dados foram publicados pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Carlos Silva Filho, diretor dessa entidade, acha que o lixo orgânico nunca recebeu o devido valor.
"Historicamente, no país houve uma atenção e diria concentração praticamente total de investimentos na recuperação da fração seca, que seria os resíduos recicláveis secos. E não tem sido dada atenção à fração orgânica".
Como o lixo orgânico não é tratado, ele vai parar nos aterros sanitários. O problema é que a decomposição desse material gera gás metano, nocivo à atmosfera.
"Se os resíduos orgânicos descartados em um ano no Brasil fossem submetidos em processos de tratamento, as emissões reduzidas seriam o equivalente à retirada de sete milhões de automóveis das ruas".
Um dos processos mais tradicionais de recuperação desse material é a compostagem. É como se fosse uma reciclagem, no qual fungos e bactérias transformam lixo em adubo.
Edson Tomaz Filho é presidente da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana, órgão responsável pela gestão de resíduos em São Paulo. A cidade conta com cinco pátios de compostagem. O plano é abrir mais seis até o fim do ano.
"A operação é realizada através do recebimento de resíduos de feira, especificamente frutas, verduras e legumes. Hoje nós deixamos de mandar para aterro 15 mil toneladas por ano desse tipo de resíduo orgânico".
Iniciativas populares também estão engajadas para dar uma nova função ao lixo.
É o caso do projeto Revolução dos Baldinhos, que há 11 anos promove compostagem na comunidade Chico Mendes, em Florianópolis. Para acabar com um surto de ratos, distribuíram baldes para os moradores. Assim eles separam seus orgânicos e levam para o pátio de compostagem. Daí o nome Revolução dos Baldinhos.
Cíntia Aldaci da Cruz é a coordenadora do grupo e comemora os resultados.
"O que a gente está fazendo é política. A gente está desviando duas toneladas por semana dos aterros sanitários. É esse poder de transformação real que a gente vê. De identificar que não existe só o ouro, o petróleo. Mas agora tem o adubo. Eu penso que a gente tem que consumir menos, se conscientizar e separar bem mais."
A iniciativa foi reconhecida no exterior. Em janeiro deste ano, levou o título de prática excepcional em agrologia mundial durante o Fórum Global de Alimentação e Agricultura, na Alemanha.
Fonte: CBN