A correta disposição dos resíduos no meio urbano representa hoje um dos maiores desafios para os municípios brasileiros. São mais de 76 milhões de toneladas de resíduos sólidos gerados anualmente, o que demanda serviços públicos cada vez mais preocupados com o controle da qualidade ambiental destinada à população.
Muitas cidades enfrentam problemas para o manejo adequado dos rejeitos, como a ausência de recursos financeiros e a falta de conscientização da população. Entretanto, o município de Mariana (MG), localizado a 122 km da capital Belo Horizonte, vai na contramão dessa realidade e avança nas ações de desenvolvimento sustentável.
Criada em 2005, a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Mariana (CAMAR) tornou-se referência regional em atividades de gestão ambiental. Formado por 28 associados, a maior parte de mulheres, o grupo realiza a coleta seletiva dos resíduos sólidos e o processamento dos itens aptos à reciclagem. Cada bairro ou distrito do município possui dia e horário específico para a coleta seletiva.
A população exerce papel essencial no manejo dos rejeitos. Isso porque os moradores embalam separadamente os resíduos passíveis de reciclagem e os depositam nas lixeiras domiciliares, durante o dia da coleta seletiva. Na sequência, os profissionais da CAMAR passam de porta em porta recolhendo os produtos, por meio de caminhões cedidos pela prefeitura municipal. Finalmente, as cargas são levadas ao centro de triagem para as atividades de processamento.
Além de disponibilizar os três caminhões de coleta, a prefeitura de Mariana é responsável pela locação do galpão de reciclagem, suporte à gestão e qualificação dos catadores. Com essa parceria consolidada, a CAMAR recolhe cerca de 50 toneladas de resíduos sólidos a cada mês. Entre os materiais levados para triagem estão os plásticos, papéis, papelões, vidros, sucatas e metais. O trabalho já resultou no aumento da vida útil do aterro sanitário de Mariana em aproximadamente três anos, bem como na redução de 7% dos resíduos encontrados nas vias públicas.
Segundo o presidente da Assemae, Aparecido Hojaij, o exemplo de Mariana reafirma a necessidade das ações integradas como alternativa à melhoria da gestão nos serviços municipais de limpeza urbana. “O avanço nos indicadores do setor só será possível pela união de esforços entre o poder público e a sociedade civil. Cada um precisa fazer sua parte na construção de um ambiente mais sustentável e limpo”, disse.
Conforme explica a coordenadora de Programas Ambientais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Rogéria da Trindade, o poder público local também investe em ações de educação ambiental para garantir a adesão dos moradores ao projeto de reciclagem. O trabalho inclui oficinas em escolas municipais, associações de moradores de bairro e comunidade geral, destacando a importância de separar o lixo e de respeitar os profissionais envolvidos no manejo dos rejeitos. “Também realizamos uma série de treinamentos junto aos catadores da CAMAR, incluindo temas como o atendimento a normas técnicas ambientais e o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)”, completa.
Para a coordenadora, a parceria entre catadores e prefeitura promove o resgate da cidadania, multiplicando ações de preservação ambiental em Mariana. “As pessoas da associação se sentem satisfeitas com seu trabalho e têm uma renda que lhes permite viver de forma mais digna. Aliado a isso, temos a conscientização da comunidade e a destinação correta dos resíduos. Considerando que só a indústria de reciclagem de PVC apresentou um crescimento de 4,6% ao ano no período de 2005 a 2014, fica claro o potencial desse segmento no contexto econômico”, enfatiza.